A diversidade da vida é muito mais ampla do que se imagina, mas grande parte dessa riqueza pode ser perdida
antes que sua importância seja conhecida, por conta da destruição ambiental promovida pela espécie humana.
no Brasil, a multiplicidade de valores – culturais, econômicos, sociais e ecológicos – associada a certas plantas
nativas, como a carqueja e o alecrim-do-campo, aumenta a relevância de pesquisas com essas e outras espécies, inclusive sobre os efeitos das mudanças climáticas na flora, buscando conhecer melhor e ajudar a conservar a biodiversidade do planeta.
Autores: Geraldo Wilson Fernandes, Yumi Oki, Isabela Maria do Nascimento, Camila E. Mendes de Sá e Newton P. U. Barbosa do Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade (LEEB), Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Minas Gerais
Christiane Contigli da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec)
A vasta diversidade de seres vivos do planeta, o que inclui a espécie humana, está intrinsecamente vinculada aos recursos naturais. No entanto, esses recursos, moldados por processos ecológicos que ocorrem desde a formação da Terra, há mais de 4,5 bilhões de anos, não são infinitos, e vêm sendo afetados por interferências humanas no ambiente. Desde o início de sua evolução, nossa espécie tem alterado os mecanismos que regem a vida na Terra. Nos últimos dois séculos, em especial, essa conduta catastrófica vem destruindo a diversidade biológica. As estimativas do número atual de espécies variam de 5 milhões a 100 milhões, dependendo dos critérios usados para o cálculo. Calcula-se que 95% das espécies que já viveram no planeta desapareceram, mas acredita-se que a taxa atual de perdas de espécies (diretas ou indiretas) decorrentes da ação humana seja 50 a 100 vezes superior aos índices de extinção por causas naturais.
Em meados do século 20, essa perda acontecia a um ritmo estimado de cerca de uma espécie extinta a cada
13 anos. Hoje, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), desaparecem em torno de 5 mil espécies por ano – ou 14 espécies a cada dia. No Brasil, que detém a maior diversidade biológica do mundo (abriga entre 15% e 20% do total de espécies conhecidas), cerca de mil espécies de animais e vegetais estão em perigo de extinção, segundo a lista oficial elaborada em 2008 pelo governo. Não se trata apenas da extinção de espécies, mas da quebra das intrincadas redes de interrelações, o que pode provocar desequilíbrios no ambiente. Com isso, perdem-se organismos e conhecimentos, potencialmente úteis para a preservação e conservação ambiental e para a melhoria da qualidade da vida humana. Uma amostra dessa perda é apresentada a seguir: apenas uma espécie vegetal pode fornecer grande variedade de informações e produtos e ainda gerar inúmeros benefícios ao ambiente e aos humanos.
A restauração ambiental entre as plantas já pesquisadas pelos estudiosos, espécies do gênero Baccharis (como a carqueja e o alecrim-do-campo ou vassourinha), que habitam desde campos abertos até regiões altas e montanhosas, vêm se destacando pelo valor econômico, cultural e social e por suas qualidades – ambientais, medicinais e outras. O grupo dos alecrins e das carquejas abrange mais de 500 espécies, todas das Américas, e mais de 120 delas ocorrem no Brasil. Muitas espécies de Baccharis (por exemplo, B. dracunculifolia, B. elaeagnoide e B. medullosa) são encontradas
nos estágios iniciais do desenvolvimento do cerrado ou da mata atlântica. Estudos em campo e em laboratório comprovaram que algumas dessas espécies apresentam bons resultados no controle da erosão e na restauração de áreas degradadas por atividades de mineração. Por se associarem facilmente a micro-organismos do solo, essas plantas conseguem se estabelecer e se desenvolver rapidamente em áreas com poucos nutrientes.
Essa capacidade resulta de características adquiridas por tais plantas durante sua evolução, como dispersão de sementes a longas distâncias, baixa exigência de luz para germinar (as sementes toleram a sombra), alta adaptabilidade aos nutrientes do solo e capacidade de rebrotar após o fogo. Além disso, geram grande biomassa, já que, embora não sejam árvores, o número de indivíduos por área é elevado. Assim, além de cobrirem com rapidez as áreas degradadas, induzem o retorno de herbívoros, predadores e polinizadores ao ambiente restaurado, exercendo papel relevante na recuperação ecológica de áreas de cerrado.
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