A agenda de mudanças climáticas ofuscou a perda de biodiversidade

Cássio Cardoso Pereira, Daniel Negreiros, Geraldo Wilson Fernandes

O estudo recém-publicado por Pereira e colaboradores na prestigiosa revista Nature Conservation afirma que a solução para o aquecimento global e as crises ambientais não está apenas na redução da temperatura por meio do plantio de árvores ou mesmo da mudança de nossa matriz energética.

Precisamos mudar nossa postura em relação a nós mesmos e à maneira como fazemos as coisas. Há uma longa lista de coisas que precisamos fazer se quisermos ter sucesso. Uma das mais importantes é a mudança de algumas ações políticas.

Quando analisamos a popularidade e o prestígio das organizações intergovernamentais criadas em prol do meio ambiente, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) ofusca a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). Essa situação se repete ao analisarmos os tratados ambientais.

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) é também mais conhecida do que a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD). Isso pode ser causado pela maior atenção do público às mudanças climáticas em detrimento de outras questões de biodiversidade, as quais estão intimamente ligadas. Talvez este seja o resultado de um número maior de COPs (Conferência das Partes) ligadas às mudanças climáticas (27 COPs) em relação à biodiversidade (15 COPs) até o momento.

Essa assimetria pode prejudicar não apenas a biodiversidade, mas também as mudanças climáticas, uma vez que as questões ambientais estão inexoravelmente interconectadas. A biodiversidade, a variedade única de vida em nosso planeta, é a base do bem-estar cultural, econômico e social.

A destruição dos ecossistemas prejudica a capacidade da natureza de regular as emissões de gases de efeito estufa e de se proteger contra condições climáticas extremas, acelerando assim as mudanças climáticas e aumentando a vulnerabilidade a elas. Desta forma, os autores argumentam que esse problema não deve ser resolvido sem considerar o panorama como um todo. Clima, mudanças no uso da terra e biodiversidade precisam ser definitivamente integradas aos modelos de previsão do futuro do planeta e bem estar da humanidade.

Os autores apontam que, embora sinuoso, esse caminho é fundamental. Há muito a ser transmitido à sociedade em termos de conscientização ecológica. A parte da população que não é capaz de entender a relevância da biodiversidade precisa ser integrada na luta para salvar o planeta e esta luta é de todos. Vencer esses obstáculos talvez seja uma das mais relevantes armas contra os efeitos das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

Leia o artigo na Revista Nature aqui: https://doi.org/10.3897/natureconservation.53.110961

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