Pesquisa da UFMG identifica como restaurar a bacia e alerta para risco de novo desastre nas áreas florestais
No epicentro do rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana, um estudo desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais identificou espécies da vegetação nativa das margens do rio Doce fundamentais para restaurar a diversidade que havia antes do rompimento.
O projeto Biochronos, coordenado pelo professor Geraldo Fernandes, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, pesquisa há quatro anos os efeitos do desastre ambiental que atingiu a bacia do rio Doce. O mais recente estudo do grupo foi publicado em uma importante revista científica internacional este mês (leia aqui).
“O nosso objetivo foi averiguar quais eram as espécies e sua abundância na vegetação nativa ciliar de áreas preservadas no epicentro onde ocorreu o desastre. Entender como elas se comportam em relação às características do solo, como pH, acidez e nutrientes. E, assim, identificar como devem ser restauradas as áreas impactadas da bacia.” — explica João Carlos Figueiredo, doutorando em Biotecnologia da Universidade Estadual de Montes Claros e primeiro autor da pesquisa, que contou com a participação de outros 9 pesquisadores do projeto Biochronos.
Para caracterização da vegetação local foi empregada a técnica de Fitossociologia, na qual áreas de mata são selecionadas e todas as plantas são medidas, catalogadas e identificação por especialista botânico.
Diversidade nas matas ciliares do rio Doce
A análise da vegetação e coleta de solo foi feita em três distritos de Mariana: Santa Rita Durão, Monsenhor Horta e Camargos. Nos remanescentes florestais de referência (não atingidos pela lama), o estudo identificou 174 espécies de árvores adultas e 189 espécies de plantas juvenis. “É uma região de alta diversidade florística da Mata Atlântica”, explica Figueiredo.
Analisando as pequenas plantas ainda jovens nas matas não afetadas pelo rompimento, foi possível identificar como a alta diversidade de espécies está intimamente relacionada à grande variedade de solos. Isso significa que a grande variação de tipos de solo existente na região permite que muitas espécies diferentes de plantas possam coabitar naquela área.
Restauração equivocada da bacia pode gerar outro desastre
Mesmo tão próximos, os trechos de mata ciliar avaliados se mostraram muito diferentes, tanto em composição florestal como em características do solo, a ponto de compartilharem pouquíssimas espécies entre si, evidenciando a alta heterogeneidade entre os locais.
Isso mostra que diversas práticas de restauração empregadas na bacia, que utilizam apenas um grupo de espécies para plantio, são um grave erro. Os pesquisadores explicam que propor uma solução única para as muitas matas ciliares que compõem a bacia pode causar outro desastre: o da homogeneização ambiental.
Os pesquisadores alertam que estudos como esse devem ser realizados em toda a bacia do rio Doce, a fim de estabelecer ecossistemas de referência, que permitam definir metas e monitorar o sucesso da restauração, principalmente nas florestas ribeirinhas da bacia do rio Doce.