Estudo investigou como características do solo afetam o desenvolvimento de árvores e mudas
Uma série de estudos ao longo da bacia do rio Doce está sendo publicada para trazer à sociedade os resultados das pesquisas desenvolvidas nos últimos anos sobre a restauração das áreas impactadas pelo desastre ambiental da barragem de Fundão, em Mariana. As pesquisas são desenvolvidas pelo projeto Biochronos, coordenado pelo Prof. Geraldo Fernandes, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, em parceria com a Fapemig/Fundação Renova.
As pesquisas investigam a diversidade de espécies e as características do solo em diferentes pontos da bacia para comparar áreas impactadas e nativas e definir referências para os ecossistemas da região. Divididos por grupos de cidades e distritos, que vão desde o epicentro do rompimento até próximo à divisa com o estado do Espírito Santo, os pesquisadores estão percorrendo a linha de impacto da lama nas matas ciliares do rio Doce em Minas Gerais.
Um dos primeiros artigos da série, publicado na revista internacional iForest – Biogeosciences and Forestry avaliou fragmentos de Mata Atlântica em excelente estado de conservação localizados no município de Bom Jesus do Galho, no distrito de Revés de Belém, em Minas Gerais. Essas áreas, não atingidas pela lama, servem de referência para restaurar trechos impactados.
Mesma espécie, condições opostas
Em um trecho de 4,5 km², os pesquisadores registraram 140 espécies de plantas, 78 adultas e 90 juvenis (mudas). O número representa uma grande grande variação de espécies da Mata Atlântica, que se deve à variação das características do solo.
Em meio a essa diversidade, os pesquisadores perceberam que espécies do mesmo gênero podem se estabelecer em condições muito diferentes. Por exemplo, a espécie Guarea macrophylla, conhecida popularmente como Pau d’arco ou Camboatã, comumente usada nos projetos de restauração, mostrou uma forte associação com solos mais pobres e ácidos, com maiores proporções de argila. Por outro lado, a Guarea guidonia, conhecida popularmente como Taúva ou Carrapeta, apresentou forte associação com solos arenosos menos ácidos e mais ricos em nutrientes minerais.
Vegetação altamente diversa nos cursos d’água da bacia
As preferências opostas entre as espécies de um mesmo gênero revelam que as informações de sobrevivência de uma espécie não podem ser extrapoladas para outras espécies do mesmo gênero. Ainda que sejam “parentes”, elas são favorecidas em extremos opostos do gradiente de qualidade do solo. Isso destaca a importância de realizar estudos em diversas regiões da bacia do rio Doce para avaliar as particularidades e preferências das espécies de árvores. Essa informação é crucial para a eficácia dos processos de restauração.
“Nossos resultados confirmaram que variações sutis na qualidade do solo modificam profundamente a composição da vegetação, o que contribui significativamente para explicar as características da vegetação dos cursos d’água na bacia do Rio Doce.”, explica Letícia Ramos, pesquisadora do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG e primeira autora do artigo.
Ao implementar projetos de restauração ambiental na bacia do rio Doce, os pesquisadores alertam que é preciso levar em consideração essas características. “Se a mata ciliar fosse sempre homogênea, com as mesmas árvores, restaurar seria mais rápido e mais simples. Mas ela tem grande variação de espécies, com muitas particularidades. Por isso, é preciso entender a relação entre solos e plantas para implementar projetos de restauração que possam recuperar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.”, complementa a pesquisadora.
Acesse o artigo na íntegra aqui: https://iforest.sisef.org/pdf/?id=ifor4313-016