Estudos indicam como o estresse fez asas das abelhas reduzirem em até 60% 

Não são só os seres humanos. Os animais também sofrem estresse.  E a causa tem sido as alterações no meio ambiente. Quando o tempo muda, é comum sentirmos alterações no nosso sono, na fome e até na disposição para fazer atividades simples. Nosso corpo responde ao ambiente. O chamado “estresse ambiental” já está  impactando a saúde de todos os seres vivos. Mas notar isso em outros animais é mais difícil, principalmente se forem tão diferentes de nós, como os insetos. 

 Um dos grupos de animais mais importantes para a permanência da vida na Terra é o de abelhas. Elas estão entre as mais importantes polinizadoras, mas são extremamente sensíveis aos níveis de mudanças no ambiente. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais identificaram que ao menos uma espécie de abelha, na região da Cadeia do Espinhaço, está ficando deformada devido às mudanças climáticas. Essa descoberta foi publicada na revista científica Neotropical Entomology (leia o artigo original em inglês no link).

Subindo as montanhas

Na Serra do Cipó, as abelhas estão subindo as montanhas em busca de temperaturas mais amenas. Nesses novos ambientes, mais altos, o fornecimento de alimentos é menor e as condições de vento e predadores são diferentes. Esse ambiente mais estressante está afetando o desenvolvimento desses insetos, alterando a formação de suas asas. 

A pesquisa, conduzida pelo Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade e coordenada pelo Prof. Geraldo W. Fernandes, mostrou que a cerca de 1400 metros de altitude as abelhas da espécie Eulaema nigrita estão com as asas mais curtas e mais estreitas. Nos pontos mais altos da montanha, a diferença na simetria entre as asas do lado direito e esquerdo das abelhas chegou a 60% . Essa deformação compromete a aerodinâmica de voo das abelhas e interfere diretamente na polinização. 

Encontrada do México até a Argentina, essa espécie de abelha, também conhecida como Euglossini ou abelha das orquídeas, é uma das principais polinizadoras das regiões tropicais. São raras em lugares mais frios e servem como bioindicadores, pois vão responder mais rapidamente aos sinais de alterações no ambiente. 

O estudo revela que, embora as diferenças climáticas ao longo da elevação da Cadeia do Espinhaço não sejam tão drásticas como em países de clima temperado, elas são suficientes para representar um estresse ambiental significativo, observado pela primeira vez em abelhas. O efeito das mudanças climáticas nessa espécie de abelha pode indicar um fenômeno de alterações em outras espécies em condições similares. Um alerta sobre o que já pode estar acontecendo com outros grupos de animais, mas ainda precisa ser investigado.

A Serra do Espinhaço é a segunda maior cadeia de montanhas da América do Sul e tem demonstrado ser uma importante região para estudos sobre como as mudanças climáticas e a disponibilidade de recursos ao longo interferem na biodiversidade e nas condições de sobrevivência para os seres vivos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *