Estudo revela os principais atores e suas ações nas interações entre flores e seus visitantes na Serra do Cipó.

A polinização é um dos acontecimentos mais fundamentais na natureza, essencial para a reprodução de cerca de 85% das plantas com flores. Este processo envolve a transferência de pólen de uma flor para outra, geralmente por meio do vento e por animais como abelhas, borboletas, beija-flores e até besouros. A polinização não apenas assegura a formação de frutos e sementes, mas também mantém a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas. Em ambientes tropicais, essa dependência é ainda mais pronunciada, atingindo 94%.

Vale pontuar que a polinização é crucial para a produção agrícola, com até um terço das plantas de interesse agrícola dependendo de polinizadores. A perda de polinizadores pode causar um colapso na produção de alimentos, afetando a economia e a segurança alimentar global. Além disso, a polinização contribui para a manutenção dos ecossistemas, dando suporte à vida silvestre que depende das plantas para alimento e habitat.

Apesar da importância dos polinizadores, nem todas as interações com as flores são benéficas. Algumas espécies de animais, ao visitar as flores, podem na verdade prejudicar a planta, interferindo na polinização e reduzindo a produção de frutos e sementes.

Neste contexto, pesquisadores da UFMG investigaram as interações entre o arbusto nativo Collaea cipoensis e os animais que visitam suas flores. O estudo lança luz sobre os desafios enfrentados pela planta diante de uma variedade de visitantes, desde polinizadores benéficos até oportunistas prejudiciais.

O grupo de cientistas que investigou este processo de interação floral com seus visitantes é composto por uma rede de pesquisadores de diferentes instituições, são elas:

  • o Laboratório de Ecologia Evolutiva & Biodiversidade da UFMG; o Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília;
  • o Departamento de Biodiversidad, Ecología y Evolución, Universidad Complutense de Madrid, Espanha;
  • o Instituto Multidisciplinario de Biología Vegetal, da Universidad Nacional de Córdoba – CONICET, Argentina;
  • o projeto Pesquisa Ecológica de Longa Duração sobre os Campos Rupestres da Serra do Cipó (PELD) da UFMG;
  • e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, o Centro de Conhecimento em Biodiversidade.

O que as visitas nos dizem?

Os cientistas observaram a presença de beija-flores e insetos nas flores de Collaea e identificaram como esses animais utilizam o pólen, néctar e tecidos.

Imagem Collaea cipoensis com um beija-flor. Fonte: Arquivos de pesquisa.

Foram estudadas 30 plantas do arbusto nativo para avaliar a produção de frutos e sementes e a taxa de germinação, determinando o impacto das interações benéficas e prejudiciais.

Ao todo, 31 espécies de animais visitaram as flores dos arbustos estudados. Dentre estas, apenas 3 eram polinizadores, isto é, relações em que tanto a planta quanto o animal são beneficiados. As outras 28 não ofereceram benefício algum para as plantas, comportando-se como roubadores, pilhadores ou florívoros.

Os roubadores foram aqueles animais que, ao procurar por néctar, danificaram as flores comprometendo sua manutenção, enquanto os pilhadores usaram néctar ou pólen, porém sem danificar as flores e sem oferecer o serviço de polinização. Já os florívoros são os animais que mastigam qualquer parte das flores, incluindo pétalas, anteras e estigmas.

A partir dos frutos produzidos, os cientistas acompanharam o desenvolvimento de sementes para depois mensurar como a germinação dessas sementes é afetada pelos visitantes benéficos e prejudiciais que foram até às flores.

Imagem: Trigona spinipes é uma abelha social brasileira, também conhecida pelos nomes de Abelha-Cachorro. Arquivo da pesquisa.

A espécie que mais limitou a reprodução do arbusto foi a abelha-Cachorro (Trigona spinipes), ao ser o animal que mais prejudicou a produção de sementes de qualidade. Devido à sua assiduidade nas flores, outros insetos, como formigas, moscas das flores e vespas, também prejudicaram a produção de sementes viáveis.

Por outro lado, duas espécies de beija-flor foram as mais benéficas para a produção de sementes de qualidade, sendo que o beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) teve maior contribuição devido à qualidade das visitas, enquanto o beija-flor-de-orelha-violeta (Colibri serrirostris) contribuiu pela sua alta frequência nas flores.

Também foi encontrado que plantas que exibem uma quantidade maior de flores obtêm mais visitas de animais, tanto de benéficos quanto de prejudiciais.

Novidades para o mundo científico

O estudo reforça a importância de considerar simultaneamente os visitantes com potencial benéfico e prejudicial na produção de frutos e sementes, já que os resultados dessas interações envolvem consequências para a reprodução, ecologia e manutenção de espécies de plantas ao longo do tempo.

Dadas estas características, a pesquisa se encaixa também dentro do chamado global da ONU para a Restauração de Ecossistemas entre 2021 e 2030. As flores do arbusto, que são produzidas ao longo do ano todo nas suas áreas de ocorrência, representam fontes importantes e contínuas de alimento para várias espécies de aves e insetos no campo rupestre.

Difusão do conhecimento

O estudo foi publicado no periódico científico Biotropica. A revista é altamente conceituada internacionalmente e publica pesquisas originais sobre ecologia e conservação de organismos tropicais e/ou da gestão dos ecossistemas tropicais.

O projeto foi financiado por instituições financiadoras e redes de pesquisas, como a ComCerrado, FAPEMIG, CNPq e pelo projeto PELD, dedicado à pesquisa Ecológica de Longa Duração sobre os Campos Rupestres da Serra do Cipó.

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